terça-feira, 6 de março de 2012

Mortal Engines


Mortal Engines, do escritor inglês Philip Reeve, foi o primeiro livro que traduzi. Além de uma nova experiência profissional, foi também uma nova experiência como leitor. A história acontece num mundo futurista (ou melhor, retrofuturista) no qual algumas cidades se tornaram móveis, rodando pelo mundo à procura de recursos que se tornaram escassos após o que o autor chama de Guerra dos Sessenta Minutos. Essa guerra destruiu muitas terras e a grande maioria das coisas que conhecemos e consideramos normais acabaram sendo perdidas. Além das dificuldades tecnológicas, essas cidades móveis têm que enfrentar a Liga Anti-Tracionista, um grupo de cidades estáticas (ou seja, cidades que se recusaram a se tornar móveis) que se juntaram para combater as cidades móveis que eles acreditam estarem destruindo o meio-ambiente.

Não costumo ler coisas relacionadas à ficção científica, porém a ideia dessa série de quatro livros é no mínimo interessante. No começo é um pouco estranho imaginar uma cidade como Londres rodando sobre rodas, com diversos andares e a Catedral de São Paulo no andar superior. Mas conforme seguimos em frente isso se torna normal em meio a tantas coisas diferentes, como um museu que expõe uma folha de papel de alumínio como sendo uma relíquia inestimável, ou talvez dirigíveis como principal meio de transporte. O senso de humor britânico também é um ponto a mais; algumas passagens são realmente engraçadas, ora fazendo referência à mitologia e outras obras literárias, ora brincando com as tecnologias que temos hoje em dia, mas que se tornaram grandes segredos nesse mundo desolado.

Após trabalhar nele continuo não sendo muito fã de ficção científica, ainda prefiro cavaleiros, castelos e magos, ou palhaços assassinos, carros assassinos, cães assassinos. Além disso, achei os personagens um pouco insossos; alguns são bonzinhos e inocentes, outros são malvados e previsíveis (mas é claro que existem algumas exceções). Contudo, acho que isso se deve ao fato de eu ser leitor assíduo de Stephen King, um escritor que consegue criar personagens tão reais que o leitor chega a acreditar que aqueles personagens podem ser seus vizinhos, amigos, familiares, colegas de trabalho ou mesmo aquele sujeito de olhar estranho sentado ao seu lado no ônibus.

As dificuldades que enfrentei para traduzir esse romance foram mais no âmbito da nomenclatura de algumas tecnologias e lugares. Ao contrário do que muitos podem pensar, a decisão não fica apenas a cargo do tradutor. Esse tipo de decisão é tomada em conjunto com a editora, ou às vezes apenas pela editora, já que ela tem pleno conhecimento de suas políticas e características editoriais. É claro que todos somos sujeitos a alguns deslizes, ainda mais quando se trata dos primeiros passos nesta atividade. Um exemplo de um deslize neste primeiro volume foi a cauda que acabou saindo “calda”; mas isso tenho certeza que foi algum necromante inimigo meu que embaçou meus olhos e atrapalhou meu pensamento, como diria nossa bom amigo Dom Quixote J Mas falando sério, isso são coisas que acontecem, às vezes de tanto ler a mesma passagem diversas vezes, certas coisas acabam passando despercebidas, infelizmente. É uma lição para levar comigo para os trabalhos seguintes e tentar errar menos. Mas como primeiro livro traduzido, acho que fiz um bom trabalho, apesar de quando leio algumas das passagens hoje em dia vejo que poderia ter feito melhor.

Para concluir, este é um livro que eu recomendo para fãs de ficção científica ou para leitores que gostam de experimentar coisas novas. A séria vai ficando mais envolvente conforme a história vai se desenrolando. Mais para frente postarei os dois volumes seguintes que já foram publicados.

2 comentários:

  1. Oi Eduardo!
    Eu gosto de ficção científica (mas também prefiro Stephen King). Quero ler esse livro, essa história de Londres sobre rodas me atraiu.
    Gostei do seu comentário sobre as dificuldades na tradução, isso é algo que nós leitores não costumamos saber.
    Mas palhaços assassinos, brr! Morro de medo do Pennywise!

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  2. " ainda prefiro cavaleiros, castelos e magos, ou palhaços assassinos, carros assassinos, cães assassinos."

    haahauhuahauha
    Muito bom!!
    =)
    Eu passo a parte dos assassinos, mas tô contigo nos cavaleiros, castelos e magos!
    ^^

    Parabéns pelo trabalho, viu?
    E não se preocupe, os erros servem para nos guiar aos acertos!
    ;)
    E obrigada por dividir conosco essa questão sobre o trabalho de tradutor, pois como a Sora disse, muitas vezes o leitor acha que a culpa é toda do tradutor e cai em cima deles, só falando mal. Não que nós tenhamos que falar mal de ninguém, mas é bom saber pra quem direcionar a nossa frustração! rsrsrsr
    Brincadeira!!^^

    Eduardo, eu vim responder um comentário que vc fez lá no blog, na resenha de Jogos Vorazes:
    Eu também não sou fã de coisas futuristas, não. Se esse é o único empecilho para você ler Jogos Vorazes, fica tranquilo, que tudo relacionado ao futuro ali é bem aceitável. Com um quê de crítica social, mas aceitável.

    Corre atrás que dá pra encarar, sim!!

    Espero que você tenha uma boa leitura=)

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