terça-feira, 1 de maio de 2012

Uma postagem diferente

Desta vez resolvi fazer algo diferente. Escrevi uma pequena anedota , então resolvi postar por aqui. Espero que gostem.


O Professor e a Maldição dos Pronomes

Como todo professor sabe, algumas vezes alguns alunos resolvem não dar as caras na aula. A probabilidade de isso acontecer é ainda maior quando se trata de aulas particulares. Nesses casos, podemos ficar sossegados em nossas salas com um bom livro, podemos preparar aulas futuras ou corremos o risco de ajudar algum aluno que precise de reforço. Pois é sobre esse último caso que farei um triste relado que aconteceu comigo recentemente.
            Tratava-se de um garoto no nível básico de inglês que precisava de mais explicações sobre verbo to be e pronomes. “Maravilha”, pensei comigo mesmo. Pensei que o garoto tivesse apenas perdido as primeiras aulas e que seria rápido dar alguns exemplos e pedir que fizesse alguns exercícios. Como estava enganado!
            Algumas perguntas fáceis, como “what’s your name?” e “where are you from?”, ele tirou de letra – provavelmente porque são perguntas marteladas durante os três anos de colegial (chamam de ensino médio hoje em dia, certo?).
            Certo, vamos revisar os pronomes pessoais e possessivos. Para facilitar a vida do garoto fiz uma tabelinha e a coloquei no quadro. Só para você não ficar um pouco perdido, aqui vai a tabela:

I – My
You – Your
He – His
She – Her
It – Its
We – Our
You – Your
They – Their

Então escrevo no quadro: What’s your name?
– Como você responde a essa pergunta? – pergunto-lhe.
– My name is… – não me lembro o nome do garoto.
– Certo, agora como perguntamos “qual é o nome dele”?
O garoto olhar o quadro com olhos vazios. Encosto-me na parede, dando-lhe um pouco de tempo para pensar. Após alguns instantes de silêncio incômodo, eu tento ajudar.
– Como eu falo “ele”?
– He – ele rapidamente me responde.
– É isso aí – eu o encorajo. – Então como digo “dele”?
– There – ele responde sem pestanejar.
– Não. Olha a tabela. Qual é o pronome possessivo equivalente ao “He”?
Ele demora um pouco consultando a tabela, afinal de contas é uma tabela bem grande. Depois de alguns instantes ele responde:
– They!
– Não.
– Where!
– Não – e penso comigo mesmo: “ ‘where’ sequer está na porcaria da lista!”
– Então não lembro.
Não lembra? Não lembra?! Como assim, não lembra!?! Expliquei tudo um minuto atrás! Contudo, não deixo meus pensamentos transparecerem na minha expressão. Respiro fundo mentalmente e mostro-lhe a resposta correta. Muito bem, vamos a outro exemplo:
– Como pergunto “qual é o nome dela”?
– Não sei – ele responde, sem pensar por um único, mísero segundo.
– Olha aí na tabela – digo com uma paciência de causar inveja no próprio Dalai Lama. – Qual é o pronome possessivo equivalente ao “she”?
– His!
– Não.
– They!
– Não – e nesse momento meu cérebro já está imaginando diversas maneiras de espremer a cabeça dele através das grades na janela.
– Where!
De novo? Nem na lista está a porcaria do “where”! Mas ao invés de enfiar duas canetas orelha adentro para cutucar o cérebro dele para ver se funciona, eu respiro fundo mentalmente de novo e aponto-lhe a  resposta correta.
E assim uma hora de aula se desenrolou. Num certo momento, cheguei a me perguntar se no futuro, com a tecnologia avançando cada vez mais, será possível realizarmos transplantes de cérebro. Aquele garoto certamente seria um dos primeiros na fila de espera.
Após a aula, pensando com mais clareza, fiquei em dúvida. O garoto tem enormes dificuldades ou simplesmente tem preguiça de pensar? Uma geração que sabe fazer mágicas com computadores e afins não consegue consultar uma simples tabela? Impossível! Acho que ele ficava olhando para o quadro por tanto tempo porque estava se perguntando onde ficava o botão que lhe mostraria a resposta.
Cada dia que passa, me deparo com alunos assim. Alunos de todas as idades que têm preguiça de pensar e que ficam impacientes se você não entregar a resposta de uma vez. Quanto mais tento guiá-los na direção certa, mais eles fecham a cara e fazem biquinho de criança mimada.
É por isso que não concordo com a teoria da evolução de Darwin. Quer dizer, concordo em partes. Só acho que ele errou na ordem; acho que o macaco veio do homem, e não o contrário.






sexta-feira, 20 de abril de 2012

Le Morte Darthur

Terminei Le Morte Darthur de Sir Thomas Malory com duas opiniões bem distintas; poxa, que privilégio poder ler o primeiro romance escrito sobre Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda; e poxa, que livro cansativo!

Ao que tudo indica, Sir Thomas Malory foi um cavaleiro do Rei Eduardo IV que reinou na Inglaterra de 1461 a 1483. Era de família rica, já que dominava o francês, o que lhe possibilitou ter acesso a diversos poemas de escritores franceses que recitavam aventuras do Rei Arthur e seus cavaleiros.

De acordo com sua própria nota ao final do livro, ele acabou seu romance na prisão durante o nono ano do reinado de Eduardo IV. Sendo assim, é possível acreditar que ao descrever as justas, aventuras, vida na corte, etc., ele tenha sido exato em seus relatos.

Como tudo escrito a respeito desse tema, o robusto romance é repleto de magia, visões e profecias. Desde o episódio da retirada de Excalibur da pedra, até a profecia sobre a morte de Arthur, tudo é guiado pelas visões que os personagens tiveram e que se tornaram realidade.

Porém, apesar de toda a fantasia, certas passagens nos faz acreditar que Arthur e seus cavaleiros realmente existiram. A viagem de Arthur a Roma para reivindicar seu título de Imperador (que para minha grande surpresa há uma inscrição na abadia de Westminster que diz: Patricius Arthurus Britannie, Gallie, Germanie, Dacie, Imperator). Malory afirma que Arthur e Guenevere foram enterrados sob o altar-mor da abadia em Glastonbury e realmente existe uma tumba onde costumava haver o altar, sendo hoje um destino turístico.

É fantástico poder ler um registro tão importante para a literatura arturiana, principalmente porque esse livro foi publicado pela primeira vez em 1498. Le Morte Darthur serviu de base para inúmeros romances, incluindo O Único e Eterno Rei de T.H. White e As Brumas de Avalon de Marion Zimmer Bradley, que relatam a vida de Arthur repleta de magia.

Talvez o ponto mais importante de todo o romance é a busca do Santo Graal. Merlin já previra que apenas um dos cavaleiros da Távola Redonda seria capaz de encontrar o Santo Graal graças a sua virtude e pureza, então criou o Siege Perilous, uma cadeira que destruiria qualquer um que tentasse sentar nela, a não ser que esse cavaleiro fosse aquele da profecia. Quando Malory descreve a busca do Santo Graal, já mais para o fim do livro, a coisa toda fica um pouco religiosa demais para mim. Anjos aparecem para os cavaleiros, demônios tentam desviá-los do caminho e relata a importância da pureza, tanto de corpo quanto de alma, para alcançar tão sagrado artefato.

Contudo, o livro é extremamente cansativo. Demorei mais de um mês para ler suas pouco mais de 800 páginas. Mesmo a linguagem ter sido adaptado para um inglês mais atual, a estrutura e grande parte do vocabulário foi mantido, o que leva um pouco de tempo para se acostumar.

Outro ponto negativo é a extensa descrição das justas ao longo de todo o romance. Sir Kay encontra Sir Bors, um derruba o outro do cavalo e lutam a pé com espadas em punho, e assim vai. Isso acontece ao longo de toda a narrativa e chega uma hora que os atos de cavalaria cansam demais, já que muitos deles não afetam o desenrolar das aventuras.

Mas só pelo valor histórico vale o esforço de passar logo essas partes cansativas. Não sabemos ao certo se Artur realmente existiu, mas a crença de que ele voltará para reinar a Inglaterra novamente já é o suficiente para atrair a atenção desse tipo de lenda, e muitas dessas lendas vieram das páginas de Le Morte Darthur.


Trilha sonora sugerida:
Grave Digger - Excalibur